Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

18 de fevereiro de 2017

Pedro Chagas Freitas, Amo-te por culpa de quem…

Amo-te por culpa de quem me ama tanto, mas não és tu,
a maldade do mundo é haver tanta gente e só tu és tu,
e não perdoo a Deus ter criado milhões de possibilidades,
milhões de braços e de abraços,
tantos lábios afinal, e nenhum me dar o que tu me dás,
a crueldade do amor é tirar-nos a possibilidade de outro amor,
quantas vidas são necessárias para te encontrar outra vez?



Pedro Chagas Freitas
Portugal, Azurém-Guimarães 1979
in Prometo Perder
Editor: Marcador

photo by Google

Pedro Chagas Freitas, Preciso de Ti




O amor é bem capaz de ser a melhor maneira de nos encontrarmos connosco.
Preciso de ti para saber de mim.
Sei-o sempre que por minutos parece que vou perder-te, numa discussão das que vamos tendo. Discutir é abrir a válvula do amor, deixá-lo respirar, sangrá-lo para poder regressar à estrada. Nenhum amor aguenta sem sangrar.
Preciso de ti para pensar em mim.
Sei-o porque quando parece que vais eu vou também, deixo de saber quem sou, como sou. Para onde vou.
Preciso de ti para precisar de mim.
E os que não me entendem que vão para o raio que os parta. Os que dizem que isto não é nada recomendável, que isto não devia ser assim, que eu devia ser capaz de ser o que sou sem precisar de ti. Infelizes.
Preciso de ti para cuidar de mim.
O amor é bem capaz de ser precisar do outro para cuidarmos de nós.
E eu cuido-me. Quero estar viva para te poder amar. Conheces melhor motivo do que esse? É claro que amo os meus pais, a minha família toda, os meus gatos, aquilo que a vida me tem dado. Mas se quero estar viva é antes de mais nada porque é a vida que te traz até mim.
Mudei a vida toda para te dedicar a minha vida.
E sou feliz. E não deixo de ser a mesma mulher que sempre fui. Não deixo de ser a mulher com cabeça, com ideias. Não deixo de ser a mulher singular que se apaixonou por ti e que te apaixonou também.
Sou mais eu sempre que sou tua.
E sou sempre tua.
Amo o que me fizeste ser. O que me fazes ser. Amo a mulher em que contigo me tornei. Amo saber que tenho em mim o que te faz querer-me em ti. Somos os dois prisioneiros mais livres de todo o universo. Somos os dois escravos mais felizes da História da Humanidade.
Escraviza-me completamente e faz-te escravo de mim, ordeno-te.
Não seguimos os manuais. Os manuais que ensinam o amor em part-time, o amor saudavélzinho. O amor em doses. O amor dividido em rações. O amor como uma empresa. Que tristeza.

Consumimo-nos sem moderação porque se é moderado já não é amor.
Somos ridículos na maneira como nos amamos mas só quem nunca amou é ridículo.
O amor é bem capaz de ser a melhor maneira de ser ridículo. 



Pedro Chagas Freitas
Portugal, Azurém-Guimarães 1979
in “Queres Casar Comigo Todos os Dias, Bárbara?”
Editor: Marcador
photo by Google



Pedro Chagas Freitas, Prometo Falhar



























Prometo amar-te até ao limite, beijar-te até à última fronteira, correr quando bastava andar, saltar quando bastava correr, voar quando bastava saltar. Prometo abraçar-te com o interior dos ossos, percorrer-te a carne com a fome absoluta, e ir à procura do orgasmo todos os dias, a toda a hora, encontrar a felicidade no doce absurdo que nos soubermos destinar. Prometo falhar. Sem hesitar. Prometo ser humano, aqui e ali ser incoerente, aqui e ali dizer a palavra errada, a frase errada, até o texto errado, aqui e ali agir sem pensar, para que raios serve pensar quando te amo tão desalmadamente assim? Prometo compreender, prometo querer, prometo acreditar. Prometo insistir, prometo lutar, descobrir, aprender, ensinar. Tudo para te dizer que prometo falhar.
E Deus te livre de não me prometeres o mesmo.




Pedro Chagas Freitas
Portugal, Azurém-Guimarães 1979
in “Prometo Falhar”
Editor: Marcador

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