Morro de ti, amor, de amor de ti,
da urgência da minha pele de ti,
da minha alma de ti e da minha boca
e do insuportável que sou sem ti.
Morro de ti e morro de mim, morro de ambos,
de nós, desse,
desgarrado, partido,
me morro, te morro, nos morremos.
Morremos no meu quarto em que estou só,
na minha calma em que faltas,
na rua onde o meu braço vai vazio,
no cinema e nos parques, nos eléctricos,
nos lugares onde o meu ombro serve de almofada à tua cabeça
e a minha mão a tua mão
e tudo isso te sei como eu mesmo.
Morremos no sítio que emprestei ao ar
para que estejas fora de mim
e no lugar onde o ar se acaba
quando te deito a minha pele por cima
e nos conhecemos em nós, separados do mundo,
ditosa, penetrada e também interminável.
Morremos, sabemo-lo, ignoram-no, nos morremos
entre os dois, agora, separados
de um para o outro, diariamente,
caindo-nos em múltiplas estátuas,
em gestos que não vemos
em nossas mãos que nos necessitam.
Nos morremos amor, morro em teu ventre
que não mordo nem beijo,
nas tuas coxas dulcíssimas e vivas
na tua carne sem fim, morro de máscaras
de triângulos obscuros e incessantes.
Morro do meu corpo e do teu corpo,
de nossa morte, amor, morro, morremos
no poço do amor a todas as horas,
inconsolável, aos gritos,
dentro de mim, quero dizer, te chamo,
te chamam os que nascem, os que vêm
de trás, de ti, os que a ti chegam.
Nos morremos, amor, e nada fazemos
senão morrermos
mais, hora após hora,
e escrevermos e falarmos e morrermos.
Jaime Sabines
México, Tuxtla Gutiêrrez 1926 – Cidade do México 1999
in Qual é a tua ou a minha língua?
Editor: Assirio & Alvim
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