Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

21 de setembro de 2014

Aluysio Mendonça Sampaio: Esperança


de tanto pisar os caminhos do mundo
os meus pés estão sangrando
e o meu coração ferido
como o chão gretado

olhos fitos na distância
avanço
rumo à fímbria do horizonte

de meus lábios brota um canto
como uma flor
nascida no agreste de meu peito

meu coração está ferido
e contudo puro e livre
como o canto que brota de meus lábios
ou o orvalho antes de tocar a terra


Aluysio Mendonça Sampaio
Brasil (Sergipe 1926;
         São Paulo 2008
in Antologia de Poetas Brasileiros
Seleção: Mariazinha Congílio
Editor: Universitária Editora
photo by google

Idelma Ribeiro de Faria: A Virgem de Negro


No rosto a marca do eterno
na mão a lanterna bíblica
no peito uma rosa rubra
partiu em busca do Esposo
o casto o excelso o inefável.

Selou a boca ao sorriso
fechou o peito ao desejo
calçou sandálias de ferro
sob os pés de rosa e neve.

Silêncios cheios de assombro
povoaram-lhe a vigília.
Vagalhões de anseios morros
cavaram fundos abismos
em sua calma-superfície.

Perdeu-se por entre os astros.
O Esposo morava longe
daquela estrada de sal
daquele rio de areia
daquela praia esgotada.

Ergueu os olhos ao alto.
Não viu mais que a grande noite.

Exausta desceu à terra
para a renúncia final.

No rosto a marca do tempo
na mão a lâmpada extinta
no peito a rosa vermelha
agora fransfeita em cinza.




Idelma Ribeiro de Faria
Brasil (Rio Claro, São Paulo) 1914
in Antologia de Poetas Brasileiros
Seleção: Mariazinha Congílio
Editor: Universitária Editora

photo by Google

1 de setembro de 2014

Mia Couto: mar me quer





















- O senhor pode ter sido acarinhado por mão, por lábio, por
      corpo, mas nenhuma carícia lhe devolve tanto a alma como a
        lágrima deslizando.

Mia Couto
Moçambique, Beira 1955
in mar me quer
Editor: Editorial Caminho