Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

10 de novembro de 2013

Chama de amor viva: S. João da Cruz

 

Ó chama de amor viva
que ternamente feres
o centro de minh’alma mais profundo!
Pois já não és esquiva,
acaba já, se queres,
rompe-me o véu deste prazer jucundo.

Ó cautério suave!
Ó saborosa chaga!
Ó branda mão! Ó toque delicado,
de todo o eterno a chave
que dúvidas apaga!
Matando, a morte em vida me hás trocado.

Ó lâmpadas de fogo
em cujos resplandores
as profundas cavernas do sentido
que estava obscuro, logo,
com estranhos primores
calor e luz dão junto ao seu Querido!

Quão manso e amoroso
te acordas em meu seio,
onde secretamente só tu moras:
com teu sopro gostoso,
de bens e glória cheio,
quão delicadamente me enamoras!


S. João da Cruz
(Espanha 1542-1591)
in Os dias do Amor

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