Quando te deres inteiramente, sim,
Verás um passo da ressurreção
Dentro de ti, homem sem divindade.
Na força efémera do teu coração
Há-de pulsar a própria eternidade.
Morto de amor, no espasmo,
Virás depois à tona acrescentado.
O corpo, no clarão, purificado;
O espírito coberto douto manto!
Um, encantado,
Outro a sair do encanto!
Só quem sobe à montanha toca o céu!
Na terra châ ninguém se transfigura!
Cada beijo é um punhal que te procura,
Cada entrega é uma morte.
Vai, na tua candura,
Ao encontro do gume que te corte!
Miguel Torga
(Portugal 1907-1995)
in Poesia Completa
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