Se eu
pudesse trincar a terra toda
E
sentir-lhe uma paladar,
Seria mais
feliz um momento ...
Mas eu nem
sempre quero ser feliz.
É preciso
ser de vez em quando infeliz
Para se
poder ser natural...
Nem tudo é
dias de sol,
E a chuva,
quando falta muito, pede-se.
Por isso
tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente,
como quem não estranha
Que haja
montanhas e planícies
E que haja
rochedos e erva ...
O que é
preciso é ser-se natural e calmo
Na
felicidade ou na infelicidade,
Sentir
como quem olha,
Pensar
como quem anda,
E quando
se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o
poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e
assim seja ...
Fernando
Pessoa in, Poemas de Alberto Caeiro, Edições Àtica
(Portugal
1888-1935)
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